Hospital do Futuro

Oncologia e Hematologia/Terapias Avançadas

As formas avançadas de virar o sistema imune contra o câncer

Terapias celulares, como as CAR-T Cells, e até gênicas estão nos corredores do Einstein, seja em laboratórios, seja na prática clínica

Por Fulano de Tal

Uma das características que fazem do câncer uma doença tão complexa é sua capacidade de, digamos, esconder-se do sistema imunológico. Até por carregarem similaridades com um tecido saudável, as células tumorais frequentemente não são identificadas como ameaças por diferentes linhas de defesas do organismo, como os linfócitos T e as Natural Killers, ou NKs.

Mas terapias celulares como as CAR-T Cells podem quebrar essa indolência do sistema imunológico, com resultados expressivos até mesmo no controle de cânceres hematológicos em estágios avançados, quando outras estratégias fracassaram. Até por isso, no Einstein elas são aplicadas e estudadas em diferentes linhas.

Para incorporar tamanha complexidade, é imprescindível contar com uma equipe treinada, uma infraestrutura clínica de ponta e um centro de pesquisas equipado e operante. “No Einstein, temos tudo isso. Tanto que a pesquisa em fase 1 para CAR-T Cell é inteiramente realizada dentro da organização”, aponta Lucila Kerbauy, coordenadora médica de Terapias Celulares Avançadas, do Departamento de Terapias Celulares do Einstein.

Ou seja, os linfócitos T coletados não são levados a outro local (ou outro país) para serem manipulados; isso acontece na sala limpa do próprio Einstein. Só o vetor viral empregado naquele estudo de fase 1 vem de uma empresa fornecedora, porém a organização já conduz estudos para desenvolver seus próprios vetores. Os exames e a aplicação do tratamento, claro, também ocorrem no hospital.

Isso tudo significa que o Einstein é um dos pouquíssimos centros no Brasil capazes de administrar CAR-T Cells e, acima de tudo, de estudar essa tecnologia. Não à toa, a organização recebeu aporte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) para desenvolver uma CAR-T Cell brasileira, disponibilizada durante o estudo clínico para pacientes do SUS, o que economizaria recursos e ampliaria o acesso. Foi o primeiro centro autorizado pela Anvisa a realizar estudos brasileiros com uso de CAR-T Cells para linfomas e leucemias.

O Einstein tem ainda projetos para criar outras CAR-T Cells, para diferentes alvos e cânceres. E CAR-NK Cells também.

“A Natural Killer é outra célula que pode ajudar a enfrentar o câncer. Ela traz a vantagem de não provocar a doença do enxerto contra o hospedeiro, então não precisaria ser extraída do próprio paciente, o que é interessante para simplificar o tratamento e torná-lo acessível”, comenta Kerbauy. “Por outro lado, é mais desafiador manipulá-la para que expresse os receptores desejados e se torne uma CAR-NK”, completa.

Nessa mesma linha, a ciência busca fazer alterações adicionais nas próprias CAR-T Cells para que deixem de expressar proteínas que seriam reconhecidas como ameaças, caso fossem infundidas em outros pacientes. E também para torná-las ainda mais potentes. Todas essas linhas são alvos de estudo no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – logo, os profissionais ligados à organização têm a possibilidade de entrar em contato com essa tecnologia de ponta.

Atualmente, as CAR-T Cells são aplicadas apenas em cânceres hematológicos, mas há uma busca global por soluções que as tornem eficazes também contra tumores sólidos. Um dos alvos estudados no Einstein almeja justamente esse feito.

“Outra linha futura, que avaliamos internamente, é desenvolver moléculas de RNA que geram alterações nos linfócitos e em outras células do sistema imunológico dentro do paciente, em vez de fazer isso tudo fora dele”, afirma Luiz Vicente Rizzo, diretor de Pesquisa do Einstein.

Essa lógica, impulsionada pelo sucesso das vacinas de RNA durante a pandemia de Covid-19, simplificaria muito o tratamento. Possivelmente, a pessoa receberia de tempos em tempos doses de uma medicação que estimularia mudanças nas células de defesa capazes de fazê-las se ligarem ao câncer e destruí-lo.

“Quando olharmos para trás, veremos que a Medicina foi revolucionada por essa capacidade de trabalharmos com moléculas de RNA. Então já estamos olhando para isso hoje no Einstein”, projeta Patricia Severino, pesquisadora do Einstein.

Oncologia e hematologia
  • Cardiologia
  • Neurologia
  • Oncologia e hematologia
  • Ortopedia