Teranóstica: a convergência entre diagnóstico e terapia que já está presente no Einstein
O progresso da Medicina possibilita uso de radiofármacos tanto para identificar características particulares de um câncer, como para tratá-lo com mais eficácia e menos efeitos colaterais.

É claro que um pedido adequado de exame sempre visa delinear o cuidado com uma pessoa. Mas a teranóstica praticamente funde, dentro da Medicina Nuclear, terapia e diagnóstico, como o nome sugere. Ela integra esses dois momentos em um só processo.
O caso clássico da teranóstica é o do câncer de tireoide. As células dessa glândula (e dos tumores que surgem nela) em geral concentram iodo em quantidade muito superior a outras partes do corpo, uma vez que usam esse nutriente para produzir hormônios. Diante disso, já nos anos 1940 foi desenvolvido um radiofármaco, o iodo-131, que ajuda até hoje a tratar a doença – ele é infundido no paciente. O mesmo iodo-131 pode ser aplicado para uma cintilografia de corpo inteiro, com o intuito de identificar possíveis focos de metástase desse câncer, e já servir como tratamento a elas.
Por muito tempo, no entanto, o câncer de tireoide foi quase o único exemplo de aplicação de teranóstica. Mas as coisas mudaram.
“O grande impulsionador da teranóstica foi o avanço da biologia molecular. Com a identificação de receptores específicos em células de alguns tipos de câncer, passamos a criar moléculas que carregam átomos radioativos diretamente até esses receptores”,
Guilherme de Carvalho Campos Neto, médico nuclear do Einstein
Daí nasceu, no fim da década de 1990, o termo “teranóstica”, que hoje marca presença especialmente contra cânceres neuroendócrinos, neuroectodérmicos (como o neuroblastoma), de próstata e de fígado. Hoje, o Einstein é um dos centros de referência para esse tipo de tratamento.
Diferentemente do caso do câncer de tireoide, onde o mesmo radiofármaco é utilizado tanto para diagnóstico quanto para tratamento, a teranóstica moderna se vale de pares de radiofármacos. Esse conceito é exemplificado por Marcos Roberto Queiroz, diretor de Medicina Diagnóstica do Einstein: “Usamos um radiofármaco para detalhar o quadro clínico, como no PET-CT ou em cintilografias. A partir disso, podemos avaliar se outro radiofármaco, que complementa o primeiro, será eficaz como tratamento.”
O Einstein é pioneiro na aplicação da teranóstica. Desde 2012, modernizou sua radiofarmácia e, no ano seguinte, passou a produzir internamente um radiofármaco (o dotatate marcado com gálio-68) para neoplasias com expressão de receptores de somatostatina. Em 2014, foi um dos pioneiros na radioembolização de metástases hepáticas e, em 2015, iniciou a produção interna do radiofármaco PSMA com gálio-68 para o câncer de próstata.
Hoje, a teranóstica está amplamente integrada na prática clínica do Einstein. “Temos a estrutura necessária para diagnosticar, tratar, produzir radiofármacos e capacitar profissionais. Além disso, conduzimos pesquisas e promovemos simpósios e eventos educacionais sobre o tema”, destaca Taise Vitor, coordenadora biomédica da Medicina Diagnóstica do Einstein.
Em outras palavras, o hospital está posicionado de forma única para incorporar novas moléculas teranósticas no cuidado com os pacientes. A tendência é justamente essa: novos radiofármacos e novas indicações para os que já estão em uso.
“Isso certamente aumentará o acesso dessa tecnologia de ponta a quem precisa dela”, projeta Queiroz.